quinta-feira, março 01, 2007

 

A deformação de uma boa idéia

Está havendo uma tendência de jornalismo no mundo em que o próprio público a que é destinado elabora as informações. Surge na Internet, com o pioneiro Slashdot, um site de notícias da comunidade de desenvolvedores de software aberto (http://slashdot.org/) e avança com o jornal “OhMyNews” (http://www.ohmynews.com/), na Coréia do Sul. É o chamado jornalismo cidadão, em que cada leitor é um repórter.
Os meios impressos começam a usar o modelo como forma de fazer frente à crise que vive pelo advento das notícias na web.
No Brasil temos uma macaqueação disso numa revistinha bem fuleira da Editora Abril, o semanário Sou +eu! (www.soumaiseu.com) É uma deformação da idéia. Para não dizer uma empulhação.
A revista é editada a partir das colaborações dos seus leitores, escolhidos para serem protagonistas de suas informações. Em lugar de ter um modelo nas reportagens sobre esses leitores, sobre temas diversos, de interesse humano e social, o modelo é a vida das celebridades. Se pelo menos tivesse o sentido de ironizar esse tipo de publicação, teria outro valor. Mas não, na revista aparecem os protagonistas contando as agruras corriqueiras de suas vidas, no mesmo modelo das celebridades, mas esvaziado dos ingredientes que naquelas despertam interesse, mesmo que sendo também superficiais. Os temas são marcados pelo universo do consumismo, do sentimentalismo egoísta, das rivalidades desse universo. Basta ver as chamadas de capa de uma dessas revistas para ver em que universo encerra esse leitor-produtor: “Processei meu chefe por assédio sexual e ganhei” (chamada principal), “Perdemos 163kg com a operação do estômago” (um casal dá o depoimento), “Fiz de tudo para casar com um homem rico”, “Fui pedreiro, hoje sou consultor de beleza”
O visual da capa é de confusão de elementos. E desde a capa há um chamado para participar: “A próxima capa pode ser você!” (está no alto com destaque) e “Nós pagamos até R$ 500 pela sua história. Os textos são curtos, segundo o figurino imperante, e sem graça.
Neste projeto da Editora Abril, infelizmente vemos a deformação de uma boa idéia, a do jornalismo cidadão. Ao contrário, as pessoas aí não aparecem como cidadãos.
Triste trajetória de uma Editora que já nos deu a revista Realidade na década de 60, que trazia grandes reportagens, essas sim levantando a vida cidadã.

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