quinta-feira, agosto 11, 2005

 

A terceira geração da blogosfera

Pedro Dória
No Mínimo, 6 de agosto de 2005

06.08.2005 A blogosfera brasileira chegou a sua terceira geração – e ficou melhor. O primeiro sinal, mais que comentado, veio quando o blog do jornalista Ricardo Noblat foi citado pelo deputado Roberto Jefferson em seu primeiro depoimento à Comissão de Ética da Câmara. Era só sintoma. A mostra de que blogs transformaram-se em fonte essencial de informação se deu nesta última semana, quando pelo menos um político importante, o prefeito carioca Cesar Maia, lançou mão do seu.
Nos EUA o movimento foi semelhante. Primeiro veio a turma de informática, gente que sabe ler código de computador como quem lê quadrinhos, e inventou os blogs como maneira de apresentar aos amigos as páginas que vinha acessando. Então veio a segunda leva, com os adolescentes e uns tantos adultos que transformaram o serviço em diário do cotidiano.
A terceira geração, de blogs informativos, surgiu aos poucos – havia os especializados em informática, claro, mas então vieram blogs para profissionais de arqueologia, economia – não há na blogosfera que fala inglês um assunto ao qual alguém não tenha dedicado um blog. Mas só é possível falar de uma terceira geração a partir dos preparativos para a Guerra do Iraque. É quando surgiram blogueiros, gente comum, fuçando informação, cruzando dados, cobrindo por vezes melhor que a imprensa o lento avanço até o estouro da guerra e, depois, até a tomada de Bagdá.
Na guerra, houve o susto dos veículos tradicionais com a nova concorrência. Um ano depois, ao longo do processo eleitoral que reencaminhou George W. Bush à Casa Branca, aqueles que se destacaram falando sobre a guerra se profissionalizaram, alguns fizeram dinheiro e vivem disso. Os blogueiros da política divididos nos campos ideológicos, da esquerda à direita, terminam sendo procurados por deputados que querem divulgar um discurso aqui, uma votação importante ali. São a maneira mais eficiente, lá, de travar contato com os eleitores com filtros mínimos.
Também no Brasil foi assim, primeiro a turma que já se sentia confortável na Internet fazia muitos anos, então a trupe dos diários e, aqui e ali, alguém preocupado em informar. A nossa Guerra do Iraque é a Comissão de Ética da Câmara e a CPMI dos Correios. O primeiro em evidência foi Ricardo Noblat. Ele mistura a transcrição do principal noticiário de vários jornais (não gosta muito de links, copia e cola), com a colaboração de gente ligada ao ramo e informação exclusiva sua.
Noblat não está nem de longe sozinho. O colunista Jorge Bastos Moreno, de “O Globo”, faz o mesmo, uma análise aqui, informação de bastidores ali. Seu blog é tão indispensável quanto o do colega mais manjado. Não são os únicos jornalistas: repórter e colunista do “Valor”, tarimbado nas coisas de Brasília, Sérgio Léo é um terceiro que complementa a notícia com o olhar de quem conhece como política e imprensa se entrelaçam.
Mas o blog de Cesar Maia faz particular diferença. Porque é natural que jornalistas, que já estão no negócio de informar, busquem a blogosfera. Quando um político o faz – e Cesar bloga a sério, escreve com freqüência – é porque parte do princípio de que será lido por quem lhe interessa. Um blog permite ao político lidar direto com o eleitor sem o intermédio de um jornalista.
Neste momento em que há um punhado de blogs acompanhando e interpretando o escândalo de corrupção que varre a pátria, as coisas se misturam um pouco e volta a questão – blog é jornalismo ou não? Mais que nunca, a reposta é: depende. Não do blog mas de qual a definição de jornalismo. Em boa parte de sua existência moderna, do século 18 para cá, o jornalismo foi partidário e, muitas vezes, panfletário. É um conceito recente, e não de todo praticado, o jornalismo imparcial.
Ao mesmo tempo, os leitores não estão habituados a se informar direto com os políticos a respeito da política. Isto é ruim. Mas é bom que se acostumem. Quando um político como Cesar passa a escrever direto para quem quiser lê-lo, ele tem intenções distintas das de um repórter. Prefeito carioca no terceiro mandato, vice-presidente nacional do PFL e pai do líder do partido na Câmara, Cesar tem suas próprias ambições políticas. O jogo ainda está aberto: pode ser candidato à presidência, juntar-se a uma chapa como vice ou disputar o governo do Estado. Se não sobrar nada, talvez lhe caiba uma cadeira no Senado.
Quando Cesar analisa a CPMI, portanto, está dando não apenas sua visão pessoal do que ocorre, mas principalmente a versão que espera colar. Ele é esperto. Enquanto faz pouco da juíza Denise Frossard, uma deputada com quem pode vir a concorrer na política local, não se incomoda de apontar o crescimento político da senadora Heloísa Helena, com quem jamais disputará votos, mesmo que ambos calhem de estar na mesma eleição. É natural: quem vota num, não vota no outro, e vice-versa.A existência do blog de um político como Cesar é para celebrar. Quer dizer que, como veículo, a Internet ficou importante o suficiente e já tem gente querendo se informar por ela. É fonte para saber o que se passa na cabeça de um político e, principalmente, de um grupo político. Taí a terceira geração da blogosfera.

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